FRASE:

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"Se deres um peixe a um homem, vais alimenta-lo por um dia; se o ensinares a pescar, vais alimenta-lo a vida toda."

(Lao-Tsé, filósofo chinês do séc. IV a.c.)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ENTRE O CÉU E A TERRA

Disse um pensador, acho que foi o gênio da literatura inglesa e mundial William Shakespeare, que “entre o céu e a terra há mais coisas do que pode alcançar a nossa vã filosofia”.
Sem querer remendar o que o mestre disse, digo eu:
E tem mais: nos casos em que algumas dessas “coisas” foram descobertas, elas não surgiram do nada no momento de sua revelação, mas pode-se afirmar que já estavam lá há muito tempo!

Foi anunciada oficialmente em 21 de julho de 2010, a constatação de que a estrela R136a1, do conglomerado r136, possui uma massa provável 265 vezes maior do que o Sol. É o objeto celeste de maior tamanho e massa já observado. Isto tudo apesar de já haver encolhido no decorrer de sua existência. Pelas  fórmulas, equações e deduções da nossa ciência até há um mês atrás, a massa máxima possível para um corpo celeste seria 150 vezes maior que a do Sol. Um errinho considerável, né? As equações estariam erradas, ou este limite foi "chutado", com base apenas no que já era conhecido?
(Fotos: European Southern Observatory - The Huffington Post)

Eu acho interessante a forma como, século após século, surgem sempre novas descobertas, cada vez mais surpreendentes e inusitadas, às vezes pondo por terra teorias consagradas como verdades. E consta que, se não me engano, no século XIX, alguns cidadãos que se diziam cientistas chegaram à conclusão de que nada mais havia para descobrir em determinados campos da ciência.
No conto de Arthur C. Clarke OS NOVE TRILHÕES DE NOMES DE DEUS, monges de um mosteiro tibetano compram um computador para descobrir e escrever todos os nomes de Deus, que, segundo eles, seriam nove trilhões. Sendo este (também segundo eles) o único propósito da existência do ser humano, após a sua consumação não haveria mais motivos para a existência da humanidade, que poderia então ser extinta, pois já cumprira seu desígnio divino.
Parece ser um paralelo para alguns homens da ciência, que por vezes se lançam em verdadeiras cruzadas, tentando afirmar teses sobre coisas que parecem estar bem além da sua capacidade atual de pesquisa.
Qualquer cientista com uma boa base matemática e que seja politicamente aceito pela chamada comunidade científica pode formular uma teoria sobre coisas que não podem ser confirmadas por experimentos sem ser contestado adequadamente, pois há inúmeras coisas que não podem ser negadas nem comprovadas fisicamente.
Erik Von Daniken propôs a hipótese de que a vida humana na Terra poderia ter sido originada por interferência de seres vindos de outro planeta.  Seu erro foi que ele partiu desta ideia inicial e depois começou a procurar indícios que se encaixassem nela. Por este motivo, foi combatido e ridicularizado. Mas, por que isso não seria possível? Porque não existem ETs para confirmar a história?
Poderiamos perguntar se alguém trouxe o tal "elo perdido" para confirmar que realmente os seres humanos atuais (homo sapiens) descendem deste ou daquele hominídeo pré-histórico. Mas, esta tese é aceita passivamente pela maioria das pessoas...
Quando se alcançou à dimensão do átomo, alguns julgaram haver chegado à unidade da matéria, mas depois, vieram os prótons, elétrons e neutrons, os quarks e suas variantes.
Em todos os campos da ciência, tanto no contexto do micro como no do macro, podemos constatar que continuam a surgir novas descobertas, que levam a novas teorias, que pressupoem a existência de mais coisas a serem equacionadas e descobertas.
Neste ponto, eu gostaria de lembrar o detalhe que eu citei no início: todas estas coisas que surgem como novidades nas revistas científicas na realidade já estavam todas aí, bem antes da existência da humanidade ou mesmo do nosso planeta!
Se essas coisas são novidades para nós, é porque só agora conseguimos percebe-las!
Os buracos negros, os quasares, as estrelas de neutrons, as partículas subatômicas, as cadeias de carbono, a ordenação na hélice do DNA, que nosso amigo Barcellos tão objetivamente nos descreveu tempos atrás, são todas coisas bem anteriores à época em que tomamos consciência de nós mesmos!

O Instituto Ludwig, fundação da Suíça, mantém com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) uma parceria no Projeto Genoma Humano do Câncer, o que pode levar a resultados importantes na luta contra este mal. (Foto: Fabiano Accorsi -VEJA) 

A exploração espacial, apesar de à primeira vista parecer supérflua, nos trouxe inúmeros benefícios, na forma de inovações tecnológicas desenvolvidas para atender aos requisitos dos programas espaciais. O transistor, e posteriormente os circuitos integrados, os computadores  portáteis e softwares especializados, as comunicações via satélite, os GPS,  materiais especiais como o kevlar e a fibra de carbono, as ligas de titânio, são todos avanços científicos derivados da tecnologia espacial.
Para não falar que, talvez num futuro não muito remoto, nossa aptidão para lançar mísseis pode ser a única esperança de evitarmos a precipitação de algum corpo celeste sobre o nosso planeta.
Infelizmente, a exploração espacial nos deixou também uma herança indesejável: o lixo espacial. Segundo dados publicados em 2008 pela NASA, foram contabilizados no espaço aproximadamente 17.000 destroços acima de 10 centímetros, 200.000 objetos com tamanho entre 1 e 10 centímetros e dezenas de milhões de partículas menores que 1 centímetro.
Assim, tem coisas na ciência que nos trazem muitos benefícios e alguns inconvenientes. Outras trazem alguns benefícios e quase nenhum inconveniente. Infelizmente, tem também aquelas que consomem muitos recursos, não dão nenhuma resposta às nossas dúvidas e mesmo que dessem, não nos trariam nenhum benefício, a não ser o de satisfazer  a nossa curiosidade. 


Sobre a elaboração de um plano de defesa contra impactos de asteróides, William Ailor, da empresa The Aerospace Corp., declarou em uma conferência promovida em conjunto com o American Institute of Aeronautics and Astronautics, em Garden Grove, na Califórnia, em março de 2004: "É uma coisa (a colisão com um asteróide) que sabemos que acontecerá no futuro, e temos a responsabilidade de fazer algo a respeito" (Foto: Chris Carlson/AP)

Eu fico imaginando se colocarmos em um gráfico de barras todo o conhecimento acumulado pela humanidade até agora, ao lado do que potencialmente podemos descobrir, em, digamos, mais uns cinquenta mil anos (será que nossa civilização vai durar tanto?).
Acho que a  barra que representa o nosso conhecimento atual seria quase imperceptível, diante do arranha-céu representando as coisas que ainda poderemos descobrir no período considerado!
E, se temos tantas coisas a descobrir, eu acho que deveriamos priorizar a busca por aquelas que podem influenciar de forma benéfica a nossa vida e a de nossos descendentes, ou preservar a própria existência da nossa civilização.
Tudo o mais pode ser uma desnecessária dissipação de recursos e esforços.
Aquelas outras coisas cuja explicação, mesmo que nos fosse presenteada por um ET, em nada mudariam nossas vidas atuais, deveriam ser deixadas para sua devida hora. Ou seja, para quando tivermos realmente a capacidade de percebe-las e entender o seu significado.
Essa é apenas uma opinião pessoal!
Eu acredito que há um propósito para a ciência, e a vejo como um bom caminho para acharmos formas melhores de viver e de sobreviver como civilização.

Instalações do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, na Califórnia, EUA, onde desde julho de 2009, cientistas procuram obter uma reação auto-sustentável de fusão nuclear, utilizando uma concentração de 192 feixes de laser. Uma reação de fusão nuclear controlada poderia gerar quantidades astronômicas de energia, como estabelece a equação E=mc². (Foto: Lawrence Livermore National Laboratory - Public Affairs)

Assim, já me dou por satisfeito se nossos cientistas descobrirem uma cura verdadeira e sem efeitos colaterais para o câncer, uma forma viável de geração de energia por  meio da fusão nuclear, um meio efetivo de controlar o aumento da densidade demográfica e a consequente degradação ecológica do planeta, ou uma forma segura de nos defendermos dos asteróides desgarrados!
Talvez eu esteja sendo pretensioso demais, mas, na minha modesta opinião,  coisinhas assim parecem mais importantes,  prementes e próximas do alcance da nossa ciência do que a natureza dos fenômenos envolvidos num suposto "Big Bang" que teria criado o universo!

6 comentários:

  1. Leonel,
    Texto impecável, você expôs com clareza e objetivamente possíveis caminhos para a ciência aplicada a preservação da vida. É claro que, como a curiosidade humana não pode ser contida, sempre haverá pesquisas desviantes de objetivos definidos, não há como não ser assim. Contudo, mesmo que os esforços sejam em qualquer sentido, algo de bom poderá resultar, a história da ciência nos prova isso. Quando a desviar um asteróide de uma colisão com o Planeta, eu quase torço pelo asteróide, se essa é a fórmula que a natureza já usou para "reciclar" a vida da Terra, mais uma vez poderia ser usada, só que desta vez o objetivo seria mais nobre: mandar nossa civilização para a cucuia. Talvez, assim, um novo começo poderia construir uma civilização com novos valores, onde a convivência entre todos os seres fosse harmônica.

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  2. Caro Jair, eu sempre percebi essa sua queda (sem trocadilho) meio apocalíptica de torcer pelo asteróide.
    Eu mesmo, às vezes penso que parece não ter como mudar alguns caminhos equivocados que optamos por seguir.
    Mas, meu receio é de não sobrar ninguém para recomeçar, e a próxima civilização ser composta de baratões inteligentes!

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  3. - Querer obrigar um cientista a concentrar sua criatividade em pesquisas que visem resultados pragmáticos é como querer dizer a Michelângelo o que ele deve ou não pintar, ou ao Jair o que escrever ou não. Mas concordo em que os recursos materiais devam ser direcionados às
    áreas onde a demanda por resultados é mais urgente.
    - Quanto à queda do asteróide, devemos respeitar a opinião do Jair, e desviar todos os fragmentos - menos o que vai cair na cabeça dele.
    - Mas, rapaz... que belo texto, amigão! Parabéns!

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  4. Eu me vejo na corajosa contingência de discordar um pouco do amigo Barcellos. Para mim, artistas, como pintores e escritores, não costumam receber verbas bilionárias para pintar ou escrever. E, como não fazem apenas obras por encomenda, tem o direito de pintar ou escrever o que lhes agradar.
    Já quanto aos cientistas, eu creio que atualmente já não existem mais aqueles sábios isolados tipo Isaac Newton, Leibnitz, Thomas Edison, que precisavam primeiro mostrar serviço para depois conseguir algum financiamento.

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  5. - Puxão de orelha merecido e aceito, Leonel... mas creio que há, sim, certa margem de liberdade entre os cientistas para buscar respostas para suas dúvidas acadêmicas enquanto perseguem os objetivos impostos pelo patrão - seja ele quem for.

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  6. Olá Leonel,

    é excelente o teu texto.
    Como tu dizes há inúmeras coisas que não podem ser negadas nem comprovadas fisicamente.
    Saibamos nós, seres humanos, reconhecer que há coisas que nem a ciência explica, que está muito além da nossa compreensão... está implícita na natureza, nos seres vivos e em todo o Universo...
    Também eu me dou por satisfeita se os nossos cientistas descobrirem uma cura verdadeira e sem efeitos colaterais para o câncer...

    Adorei ler este texto.

    Um beijo.

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